A Independência do Brasil

Gustavo Aurichio Cordeiro

     Recentemente passamos pelo sete de setembro, data essa escolhida para comemorarmos nossa independência da

metrópole portuguesa. A rigor, o sete de setembro e a independência do Brasil, é obra associada nominalmente a maçonaria, e nunca é demais relembrar quão fundamental foi a atitude de nossos ilustres irmãos para a ocorrência desta obra.

O Brasil em 1822

  • População maior em números absolutos do que a população da metrópole
  • Número de representantes nas câmaras legislativas era menor e a maioria nem havia tomado posse
  • A elite brasileira, agrária, necessitava de novos mercados para expansão comercial
  • Retornavam para o Brasil com maior frequência os brasileiros, filhos de oligarcas nacionais que estudando na Europa, assistiram de perto a ocorrência do iluminismo

Movimentos nativistas:

  1. Conjuração mineira
  2. Conjuração baiana
  3. Revolução pernambucana

Motivos principais da independência:

  1. Independência dos Estados Unidos
  2. Iluminismo e a guerra contra as monarquias no mundo
  3. Pacto colonial português

E a Maçonaria?

     Em 24 de junho de 1822, 94 homens se reuniram em um sitio e fundaram o grande oriente do Brasil. Entre estes, estava uma verdadeira galeria de “pais da pátria” Conta-se que após um dia inteiro de reunião, encerrou se a reunião com um belo banquete, e o que sobrou da libação foi distribuído a população pobre da região, reforçando assim a convicção beneficente da maçonaria.

A formação do GOB veio da loja Comércio e artes, que de tão grande foi dividida em três. (Por sorteio)

     O maçom que presidiu os trabalhos do GOB foi João Mendes Viana, na condição de VM da loja Comércio e Artes. Qual o destino de Mendes Viana? Foi enviado a Pernambuco para articular a independência, tornou se próximo dos liberais exaltados que futuramente proclamariam a confederação do Equador

     Não é possível dizer que a independência é obra da maçonaria ou de ideais maçônicos, mas é inegável que a maçonaria foi sim palco de discussões acaloradas, mobilização e dentro da grande extensão territorial, muito ajudou na divulgação dos ideais da independência.

     A este tempo, Dom João VI, pai de Dom Pedro, vai a Portugal, por exigência da população portuguesa que havia sido largada a sua própria sorte, quando da invasão do país por tropas de Napoleão. Fez de Pedro o príncipe regente, mas antes de partir, de forma enigmática sugeriu ao regente se aproximar das lideranças insurgentes no gigante Brasil.

     Neste contexto volta a ter importância fundamental a maçonaria, que se aproxima do regente, ajuda no repúdio deste a dois decretos vindos de Portugal, uma resposta exigida do poderosos portugueses que ameaçavam ao rei João.

     O primeiro decreto, extinguia os governos provinciais independentes

     O segundo, exige o retorno do príncipe regente a Portugal.

     A maçonaria utiliza se até do camareiro de dom Pedro, o Sr Gordilho de Barbuda, para influenciar o príncipe e sonda-lo sobre a aceitação do assunto independência.

     Maçons criam o grupo da resistência, que tem Gonçalves Ledo seu mais importante articulador, a situação chega a tal ponto que em determinado momento o intendente de polícia se comunica por carta com um ministro do reino e escreve a seguinte pérola:

“ o movimento de independência é por demasia generalizado, pela obra maldita de maçons astuciosos, sob a chefia de Gonçalves Ledo. ”

     Neste momento Minas e São Paulo já se apresentavam francamente favoráveis ao movimento separatista, e Bonifácio Andrada redige enérgica carta ao príncipe, “ Nada menos se pretende do que desunir nos, enfraquecer nos, e até deixar nos em mísera orfandade, arrancando do seio da família brasileira, o único pai que nos restava, depois de terem esbulhado o brasil, do benéfico fundador deste reino. Se V.A.R. estiver deslumbrado pelo indecoroso decreto, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando se escravo de certo número de desorganizadores, terá também, que responder perante ao céu, pelo rio de sangue que vai correr pelo Brasil com sua ausência...”

     Segue se a partir daqui o dia do Fico, e a consequente e inadiável independência do Brasil.

     No dizer do historiador Assis Cintra, “a independência era fatal, era fruto maduro pendente da árvore, prestes a ser colhido. Em todos os recantos fervilhava o ardor patriótico. Nas lojas maçônicas doutores, juízes, almirantes, funcionários públicos, capitalistas, fazendeiros, artífices e até padres dos mais ilustres deste tempo conspiravam...”. Mas articulados que eram, os maçons não imaginavam o país governado por um profano, e sob a indicação de Bonifácio Andrada, Dom Pedro é iniciado.

     Influenciado por Bonifácio Andrada e amigo de Gonçalves Ledo, o futuro Imperador do Brasil seria iniciado maçom. Como argumentos irrefutáveis estes que tanto influenciavam o fraco imperador, exemplificam dizendo que o mundo já conhece monarcas maçons, citam reis e imperadores europeus que participam da augusta ordem.

     Em julho Pedro tem sua proposta de admissão aceita e em agosto recebe o título de Guatimozim. Maçons o proclamaram imperador, em 20 de agosto, numa reunião do GOB.

     De imediato, orgulhoso por tornar se pedreiro livre, dom Pedro escreve a seu pai:

    “Eu, meu pai, entrei pra maçom; sei que em 1806 os fidalgos convidaram os maçons e que eles não quiseram entrar...”

     Aliás este 20 de agosto foi a data que registrou a aprovação por unanimidade de proposição de Gonçalves Ledo, “ que fosse inabalavelmente firmada a proclamação de nossa independência e da realeza constitucional na pessoa do Augusto príncipe”

     O historiador Adolfo Varnagem, descreve nota do barão do Rio Branco:

     “No dia 23 de agosto em outra sessão comandada por Gonçalves Ledo, continuou se a discussão. Por proposta sua, foram nomeados emissários, que deveriam ir tratar da aclamação nas diferentes províncias. João Mendes Viana para Pernambuco, José Gordilho Barbosa para Bahia, Januário Barbosa para Minas. Vários maçons ofereceram as somas necessárias para a viagem. ”

     Assim em 7 de setembro de 1822, ás margens do Ipiranga, D Pedro limitou se com seu gesto a promulgar o que já fora resolvido em 20 de agosto no GOB.

     Nem quanto ao grito pode se solicitar originalidade. Segundo Adelino de Figueiredo Lima, “independência ou morte” era denominação de uma das palestras da sociedade secreta Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz, conhecida por apostolado.

Atingiu a maçonaria seu objetivo?

     Apesar da luta interna travada por influência e objetivos distintos, império, república, vaidade por influenciar um nobre europeu de fraca convicção, não podemos e não devemos perder de vista quanto se fez pela independência do país, nem quanto se fez ufanisticamente pela pátria que viria ser formar. Marco Morel assim descreve o que ocorreu em seu livro: “ ... é inegável que os maçons e a instituição tiveram desempenho decisivo nos acontecimentos de 1822: pela articulação e formulação políticas, mas também pelas armas e atuando em instituições civis, militares e eclesiásticas ao lado de pessoas que não pertenciam a maçonaria. A idéia de conceder o título “ defensor perpétuo e imperador do Brasil” ao príncipe herdeiro da Coroa Portuguesa ocorreu num recinto maçônico... é preciso entender como as coisas se desenrolaram até esse ponto, focando apenas sobre a atuação da maçonaria e deixando todo o resto de lado (e não foi pouco) ”

     Desejosos de um país livre, de economia pungente e justo, lutaram , usando as suas armas, maçons e homens não iniciados. Não se pode esquecer que para a ocorrência da independência, o Brasil precisou guerrear com Portugal, e que após vencidos os simpatizantes pró Portugal, inicia se uma longa batalha pela unificação da nação.

     Quando falamos em armas, some se a isto fato de ser iniciado maçom o futuro imperador do Brasil, o que significou prestígio num primeiro momento e quase destruição da ordem em momentos seguintes. Ressalte se que a meteórica carreira maçônica de Dom Pedro, 8 dias antes da sua aclamação como imperador, não é exclusividade brasileira e segue um modelo amplamente utilizado na Europa.

Ainda citando Marco Morel:

     “ Havia uma espécie de jogo entre os maçons e os monarcas – aqueles buscando proteção e espaço e estes aproveitando para legitimarem se no campo das novas ideias e também controlar esse tipo de atividade...”

     Trazendo o jogo de forças para os dias atuais, e nos permitindo ser ufanista assim como os que nos precederam, fica a pergunta:

Você se sente independente?

     Quanto você se sente ufanista? Quanto você está disposto a se envolver?      Citando o ex venerável, você é porco ou galinha?

     E como ordem? Estamos satisfeitos com a forma que a política nacional é exercida? Somos representados em ideais por políticos maçons?

     Para se ver livre de Portugal, o Brasil pagou caro a coroa portuguesa, pagou em dinheiro pelas propriedades da coroa no pais e também pela autonomia. Existe hoje um pagamento que ofende a nação, esse pagamento se chama corrupção, já não pagamos mais a outra nação, mas estamos pagando ratos ladrões dentro do nosso território.

     Por independente entende se um pais que age com mínima intervenção externa, é soberano em suas decisões, dá a seu povo direitos e deveres, cobra impostos de forma justa, oferece segurança e proporciona orgulho.

     Afirmo, não somos independentes. Não somos atendidos pelo estado, não somos orgulhosos do nosso país.

     A população desconhece a luta travada para se chegar aqui, não respeita o hino nacional, basta assistir uma partida de futebol e comprovar. Os heróis das nossas crianças são jogadores de futebol, rappers, traficantes, ícones do menor esforço. É tema recorrente em conversas informais, entre amigos: ” se eu pudesse começar, começaria em outro país. ”

Até quando?

     Até quando vamos nos esconder da luta? Até quando vamos esperar que alguém faça a minha revolução?

     Espero que nós todos, maçons, atuemos em nosso meio, lideremos as mudanças necessárias, sejamos modelo de renovação. Espero que levemos a luz à população e novamente auxiliemos aqueles que não são iniciados a tornar esta nação independente... outra vez.

Bibliografia:

Marco Morel- O poder da maçonaria

Jose Castellani – A ação secreta da maçonaria

João Ferreira Durão – Pequena Historia da maçonaria no Brasil

Palestra do Ir José Robson Gouveia Freire- Internet