A Maçonaria e a Proclamação da República

Leonardo Baioneta

Não podemos dizer que a mudança de Monarquia para República no Brasil foi encabeçada pela Maçonaria, o crédito deve ser dado às Forças Militares, mas é fato que haviam vários e poderosos Maçons envolvidos no

processo.

A Monarquia estava passando por um momento muito complicado, tendo oposição ferrenha dos prejudicados pela Abolição da Escravatura (13/05/1888), que eram os fazendeiros e que apoiavam o império, a Questão Religiosa (1872-1875 muito interessante o estudo para a Cultura Maçônica) e o pior de todos os problemas, a chamada Questão Militar.

Importante frisar o fato de algumas lojas durante o movimento da abolição da escravatura, que usavam de sua contribuição para a beneficência para a aquisição de escravos, e os beneficiá-los com a alforria.

A própria Monarquia estava se esfacelando, o Imperador doente, a inoperância dos Ministros, os ataques da imprensa, e desde 1870 já haviam grupos que se reuniam para discutir sobre a implantação da República, e ainda devemos destacar os vários movimentos republicanos que antecederam a própria Proclamação da Republica.

A Inconfidência Mineira: importante movimento revolucionário que tinha objetivo de independência e proclamação da república. Iniciou-se em Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto), que era sede da capitania de Minas Gerais, ocorreu no emblemático ano de 1789.

Percebe-se a participação de nossa ordem nesse movimento, dentre outros motivos, pela própria bandeira de Minas Gerais, formada pelo triângulo, que representa o delta luminoso, o olho que tudo vê. Ademais, ressalta-se aqui, a participação de maçons nesse movimento, dentre os quais, Francisco Antônio Lisboa, mais conhecido como ALEIJADINHO, maçom do grau 18, era autor de obras sacras, e que deixava perpassar símbolos maçônicos em suas obras, como os três anjinhos que formam um triângulo maçônico. Além de Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes, que foi o principal ator desse importante movimento.

A Revolução Pernambucana(1817): aqui a intenção era implantar a República em Pernambuco, o seu principal líder era o maçom Domingos José Martins, nascido na cidade de Itapemirim, no Espírito Santo, derrotado e condenado a morte pela coroa Portuguesa.

A Confederação do Equador(1824): movimento liderado por Frei Caneca, que era maçom, jornalista e propalava os ideais maçônicos.

A Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha(1835): foi uma guerra regional, também de caráter republicano. Esta revolução, que tinha o objetivo separatista, resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense, que se estendeu até o ano de 1845. Tal movimento foi chefiado pelo Irmão Bento Gonçalves da Silva que conseguiu implantar a República de Piratini ou República Farroupilha.

Os maçons brasileiros envolvidos no processo atuavam por intermédio de suas Lojas, na imprensa, ou mesmo nas tribunas, onde mostravam suas preocupações com a possibilidade de um terceiro reinado.

A questão de maior relevo, como afirmada acima foi a insatisfação do exército que mesmo sagrando-se vencedor da Guerra do Paraguai, não teve o devido reconhecimento.

         O último Gabinete do Império, que era liderado por Visconde do Ouro Preto, já no ano 1889, foi estabelecido para implementar as reformas tanto ansiadas pelos setores oposicionistas, como forma de tentar salvar a monarquia, mas não teve sucesso.

Existiam muitas dificuldade para aprovar as reformas, o próprio sistema ruíra, o que ensejou as articulações entre republicanos e militares.

O Clube Militar, que tinha a frente Benjamim Constant iniciou as movimentações com vistas a evitar um terceiro reinado, isso já no ano de 1889.

Em meados do mês de novembro, numa reunião na casa do Irmão Benjamim Constant, com a presença dos maçons Rui Barbosa, Aristides Lobo e Quintino Bocaiuva,  entre outros, conseguiram a adesão do Ir.'. Marechal Deodoro da Fonseca.

Estava articulado um golpe para o dia 20 de novembro.Todavia, em decorrência de boatos e especulações de que o General Deodoro seria preso e batalhões seriam transferidos para as províncias, já na madrugada do dia 15 iniciou-se a movimentação nos bastidores das tropas. Ato contínuo, Deodoro à frente de um batalhão marchou de sua casa, no Campo de Santana (hoje praça da República) para o Ministério da Guerra, que ficava próximo, depondo o Gabinete de Ouro Preto, que não ofereceu resistência. Foram presos: Ouro Preto e Cândido de Oliveira, Ministro da Justiça; os demais membros do Gabinete foram dispensados.

Deodoro que estava doente retirou-se para sua residência e os militares retornaram para os quartéis, mas alguns republicanos, entre os quais José do Patrocínio, preocupados com a indefinição do movimento, dirigiram-se à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e proclamaram a República. A maioria do Exército não estava ciente da trama, pois se encontrava na mesma situação do povo, era estranho ao acontecimento, soube apenas do fato consumado sem saber o que estava acontecendo.

A República do Brasil foi estabelecida sem a participação popular, o povo nem sabia bem o que se passava, o que fez com que Aristides Lobo, Ministro do Interior do primeiro Governo Republicano do Marechal Deodoro da Fonseca considerasse: "que o povo assistiu bestializado" aos acontecimentos e em 18 de novembro afirmasse: que o envolvimento civil foi quase nulo e que o povo julgou tratar-se de uma "parada militar" a ida dos militares ao Ministério da Guerra.

Proclamada a República em 15 de novembro de 1889 pelo Marechal Deodoro, o mesmo se autonomeia Chefe do Governo Provisório e nomeia um Ministério totalmente Maçônico e filiado ao Grande Oriente do Brasil. No dia 19 de dezembro, Deodoro é nomeado Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil.

Nesta época podemos dizer que 70% da elite da sociedade brasileira eram Maçons e daí surgirem as teorias que davam a paternidade da Proclamação da República à Maçonaria: Quintino Bocaiúva, político fluminense (Maçom), Saldanha Marinho, político de origem pernambucana (Maçom), Silva Jardim, absolutista (Maçom), Campos Sales, chegou à Presidência do Brasil (Maçom) e os ministros da primeira gestão republicana eram todos Maçons, a saber: Aristides Lobo (Interior); Benjamim Constant (Guerra); Campos Salles (Justiça); Demétrio Ribeiro (Agricultura); Eduardo Wandenkolk (Marinha); Quintino Bocaiúva (Transportes) e Rui Barbosa (Fazenda).

Presumimos que todas as Lojas estavam polvorosas com a situação política vigente daquela época, mas não tomaram frente ao movimento, o que não diminui o orgulho desta ordem por estes homens, poderosos irmãos envolvidos no processo.

Portanto concluo que a instituição “MAÇONARIA” não encabeçou o movimento da Proclamação da República, mas foi com grande participação de poderosos Irmãos, e munidos de ideais maçônicos.