TEMPLO DO REI SALOMÃO

Libério Ferreira

      De acordo com as lendas, Salomão era um mago, ou homem sábio, um mágico e um realizador de maravilhas. Sua notória sabedoria é sempre ilustrada pelo episódio das duas mulheres que vieram a ele reclamar a maternidade de uma criança. Cada uma

delas afirmava ser a mãe. Salomão mandou, então, que a criança fosse cortada ao meio.  Assim, cada mulher teria metade do bebê. Diante de decisão tão radical,  uma delas recuou e abriu mão da criança. Foi a quem Salomão deu a guarda. Segundo o monarca, somente a mãe verdadeira faria qualquer coisa para a sobrevivência do filho – até mesmo perdê-lo. Salomão também  ficou famoso por seu dom de profetizar. Ele previu a destruição do templo que construiu pelos babilônicos. Por isso, fez compartimento secreto dentro das paredes do edifício para enterrar e preservar a Arca da Aliança – um tesouro sagrado que tem sido objeto de inumeráveis buscas desde o seu desaparecimento.
      O templo de Salomão foi o primeiro dos  dois construídos em Jerusalém durante a Antiguidade. Foi destruído pelos assírios em 722 a.C. Os judeus foram, então, exilados. Quando voltaram, construiram o segundo templo de Jerusalém. Esse foi  ampliado por Herodes. Foi nele que Jesus se rebelou contra os cambistas e se pôs  a virar as bancas de moedas. O terceiro templo foi destruído pelos romanos,  em 70 d.C.
      Os textos bíblicos de Reis e Crônicas descrevem a construção e a decoração do primeiro Templo, mas não sua forma precisa. O rei David forneceu os recursos e trabalho habilitado para erguer o local sagrado. O texto detalha suas instruções ao filho Salomão: “agora, veja preparei para a casa do Senhor cem mil talentos de ouro, e  mil  vezes mil talentos de prata;  e bronze e ferro  sem medida, pois os dei em abundância: madeira também e pedra preparei, e vós deveis dar também dar... Erguei-vos, portanto, e façais, e que o Senhor esteja convosco”. Erguei-vos, portanto, e façais”: eis aqui uma das primeiras lições extraídas do templo. “Esse era o comando nos textos sobre a construção do templo, tanto para os judeus como,  mais tarde, para os cristãos e os maçons”, escreveu o historiador escocês Andrew Sinclair em seu livro O Pergaminho Secreto (Madras Editora, São Paulo).
      O texto contém orientações práticas para construir um lar para a Arca da Aliança e, nas palavras do Livro dos Reis, “uma casa para o nome do Senhor Deus de Israel”. “Partes dos Velho Testamento são quase como um manual de construção” , afirma Sinclair.
      O Templo de Salomão original foi descrito como obra de uma multidão de mãos a serviço de uma visão transcendental. Pedreiro, capataz e rei-profeta eram um único esforço dirigido a um propósito sagrado.  Na simbologia do templo, isso significa que as mãos e o cérebro serviam juntos, isto é, a matéria harmonizou-se com o espírito. “Aquele edifício de Salomão, que foi imbuído com a sabedoria, bem como a santidade do sacerdote-rei oriental, era um paradigma para aqueles que desejavam unificar as tribos e clãs num povo ou sociedade”, escreveu Andrew Sinclair. Nesse trabalho terreno, e ao mesmo tempo divino, estava a consonância entre rico e pobre, o elevado e mundano, a teoria e a prática.
      A decoração do templo de Salomão, com seus inúmeros relevos, colunatas elaboradas e inovações arquitetônicas, é atribuída ao artista e arquiteto Hirão de Tiro. Filho de mãe judia e pai fenício, Hirão era, de acordo com Livro de Crônicas, “habilidoso no trabalho com ouro, prata, bronze, ferro, pedra, madeira, no fino linho e em púrpuras; também para realizar qualquer tipo de gravação e para criar toda ferramenta que precisar. Dizem que as lendárias ferramentas de Hirão podiam furar a pedra. Conforme afirma o Livro de Reis, “nem martelo, nem machado, nem qualquer outra ferramenta de ferro foi ouvida na casa enquanto estava sendo construída”.  A proibição do uso de ferramentas dentro do templo vinha da orientação que Moisés recebera de Deus para fazer um altar de pedra sem meios mecânicos, “pois se vós ergueres vossa ferramenta sobre  ele, vós terei poluído”. Hirão teria cortado as pedras do templo e feito teria cortado as pedras do templo e feito seus relevos e estátuas com a ajuda do domínio que exercia sobre Shamir, um  verme gigante que podia cortar pedras.
      De acordo com Livro dos Reis, na Bíblia, Salomão “escolheu operários em todas as nações de Israel (...) e [seu arquiteto] Hirão tinha a intendência sobre todos esses homens. Salomão tinha à disposição 70 mil serventes que carregavam o material e 80 mil que cortavam  as pedras na montanha; aqueles que tinham a intendência sobre cada obra, em número  de três mil, davam ordens ao povo e àqueles que trabalhavam”. Esses pedreiros foram os primeiros maçons.
Uma das principais características do templo de Salomão eram as duas colunas do pórtico, chamadas Jaquim e Boaz. Essas colunas se tornariam uma características das futuras lojas maçônicas. Jaquim e Boaz foram, provavelmente, copiados dos dois obeliscos que costumavam ficar na frente de muitos templos egípcios. O altar do templo era feito de bronze, suspenso por doze touros do mesmo material. Como nos templos etruscos da Idade do Bronze, placas de metal foram usadas na decoração, fazendo o templo de Salomão brilhar. A ideia era que o intenso brilho refletisse a glória do Deus de Israel. Provavelmente, o desenho do templo de Salomão tenha sido baseado num templo fenício do século X a.C. Isso não seria estranho, uma vez que o mestre projetista Hirão veio de Tiro, na Fenícia. Embora não se conheça nada além de descrições do edifício, o templo de Tainat, na Síria, pode fornecer um paralelo grosseiro: duas colunas sustentando um pórtico diante de uma câmara externa, levando a uma câmara interior escura com um altar; a figura total é um retângulo. Depois da construção templo, todos os trabalhadores foram mortos para que não construíssem outro, devotado à idolatria, enquanto Hirão foi elevado ao céu.
      Quando Salomão morreu, as tribos do norte de Israel se revoltaram, e o fluxo de peregrinos a Jerusalém diminuiu. Os sacerdotes e levitas, se congregavam no centro religioso da fé. O desastre caiu sobre as tribos do norte quando o reino de Israel foi conquistado em 722 a.C, pelos assírios. Dez das doze tribos foram deportadas e desapareceram da história. Os remanescentes se juntaram a Josias, que de novo, unificou as tribos judias por meio da sua ênfase na singularidade do templo de Salomão. No exílio, os judeus se reuniam numa pequena casa de orações para ler seus texto sagrados e celebrar  o seu Senho os embriões das atuais sinagogas