O PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ

Carlos E. G. Reche   

      Os painéis ou quadros eram usados no inicio da maçonaria especulativa, quando os templos ainda não existiam, para demarcar o

local onde os maçons se reuniam. Na maçonaria brasileira a história registra que em 1820, o pintor John Harris, eminente maçon, desenhou os painéis que se encontram em nossas lojas.
    A forma geométrica do Painel do Grau de Aprendiz deve ser o mesmo do templo da loja, um quadrilongo, ou seja, um retângulo com o comprimento equivalente a 1,618 vezes o tamanho da largura. Estas disposições tem relações com a  construção dos templos maçônicos que por sua vez orientam-se na descrição do templo de Salomão, existente no antigo testamento da Bíblia Sagrada, no 1° Livro dos  Reis, capítulo VI. Toda beleza e simbologia daquele templo também estão representadas no painel, e indicam que o aprendiz deve espelhar-se aí e construir seus próprios templos interiores.
    Contornando todo o painel está a borda dentada, que simbolizam o pavimento mosaico presente no centro de todo templo maçônico. Este representa a harmonia que deve reinar na ordem, apesar das diferenças de raças e credos e de ideologias políticas entre seus irmãos. Dentro da borda dentada, no centro de cada um de seus lados estão demarcadas as orientações geográficas da loja, a saber, o oriente, o ocidente, o norte e o sul.
    Na base do painel vemos uma escada de três degraus, uma alegoria a escada de Jacó, citado na Bíblia em Gênesis, e que aqui simbolizam as três luzes da loja, que tem significado tanto administrativo, significando o Venerável, o 1° e o 2° Vigilantes; como místico e representam a sabedoria, a força e a beleza.
    Sobre a escada localizam-se as colunas da entrada do templo. Olhando-se de frente para o painel identificamos uma coluna a esquerda com a inscrição da letra B e a direita outra com a letra J. Na Bíblia Sagrada no I Livro dos Reis, capítulo VII, versículo 21, está escrito que na construção do templo de Salomão, “Hiram levantou as colunas no pórtico do templo; a coluna da direita chamou Jaquim e a esquerda chamou Booz”.Essas palavras querem dizer “Ele estabelecerá na força”, que remete às colunas de fogo e vento que conduziram os soldados de Salomão as vitórias em suas batalhas.Existem outras definições para as letras B e J, como a força e a beleza; o masculino e o feminino e o solstício de inverno e de verão.
    Acima das duas colunas aparecem romãs semi-abertas. As romãs também estão descritas na ornamentação do templo de Salomão no livro de Reis. Na simbologia maçônica, as romãs indicam a união entre todos os Maçons espalhados pela superfície da Terra.
    Sobre as escadas vê-se também o pórtico ou a entrada da loja e acima dele o Delta Luminoso, que é encontrado no Oriente em todas as Lojas Maçônicas. O delta é um triângulo, o primeiro polígono, a primeira figura regular e perfeita. Representa a Trindade, símbolo presente em várias religiões. No centro do delta o olho que tudo vê, símbolo da consciência de Deus sobre tudo o que existe.
Envolvendo o painel, acompanhando a borda dentada, iniciando e terminando em borlas à direita e à esquerda das bases do painel, encontra-se uma corda onde se contam 7 nós. Ela representa a corda de 81 nós que circunda o interior do templo maçônico, que simboliza a Cadeia de União, signo da união indissolúvel entre irmãos da ordem. O número 7 representa o símbolo da inteligência, da sensatez e da busca pela sabedoria. Historicamente a corda era usada pelos maços operativos para isolar a curiosidade daqueles que não eram iniciados em sua arte, mantendo-os afastados enquanto construíam.
    Três janelas estão presentes no painel, estando localizadas a primeira no oriente, a segunda ao meio-dia e a terceira no ocidente. Eles nos remetem a necessidade de o interior do templo não ser observado por profanos. Elas estão fechadas por uma tela para deixar passar apenas a luz do sol do meio-dia e da lua na meia-noite, horário de trabalho dos aprendizes.
    No alto do painel figuram as imagens do sol e da lua, que junto com as estrelas lembram que a loja é a representação viva do universo. Sol e lua também indicam equilíbrios opostos, que não existiriam um sem o outro.  O sol é a representação da vibração positiva, a luz que o aprendiz quer buscar; e a lua a vibração negativa, as trevas da qual o aprendiz decidiu sair no dia de sua iniciação.
    A pedra bruta que no painel vemos ao lado da coluna B é o principal símbolo do Grau de Aprendiz Maçon, pois o grande objetivo desse é trabalhar para transformá-la na pedra cúbica, que vemos no painel ao lado da coluna J. A pedra cúbica representa o resultado dos esforços do aprendiz.
Alguns instrumentos de trabalho de pedreiros estão representados no painel, nos remetendo aos antigos maçons obreiros:
1.    O maço e o cinzel, que constituem os instrumentos com os quais o aprendiz vai desbastar a pedra bruta. O malho é o elemento ativo e indica a força e o cinzel, o elemento passivo e representa a beleza e a perfeição, ambos devendo ser usado em conjunto, na medida correta, dando ângulos perfeitos e adequados na construção de nosso templo interior;
2.    A prancheta  ou prancha de traçar, nos faz recordar que devemos aprender os fundamentos básicos da maçonaria histórica e filosófica para traçar nossos planos quando chegarmos a mestre.
3.    A perpendicular e o nível. A perpendicular representa o 2° Vigilante e a função é indicar o caminho numa reta que nos leve ao aprofundamento do nosso conhecimento, e que vai do centro da terra, onde estivemos em nossa iniciação até o  topo do universo, no céu do templo. O nível é o símbolo e a jóia do 1° Vigilante e simboliza a igualdade entre os homens, com um ângulo reto de 90 graus que significa a retidão de julgamento, “sem ocasionar reparos”.
4.    O esquadro e o compasso, que são a base do simbolismo maçônico. O esquadro simboliza a retidão e o equilíbrio de nossas ações, também representa a matéria. O compasso é o símbolo da dualidade, em seus dois braços e da união, na cabeça do compasso. Indica que o resultado de nossos atos tem relação com a abertura de nossas percepções, pois o compasso traça círculos a medida da abertura de seus braços. Em loja o compasso fica aberto em 45° demonstrando nossas limitações diante do G.:A.:D.:U.:. O compasso também representa o espírito, a colocação do esquadro sobre o compasso demonstra como em nosso grau a matéria predomina sobre o espírito. Juntos eles formam um pentagrama, lembrando o selo de Salomão.
    O Painel da Loja no Grau de Aprendiz apresenta uma síntese de todos os símbolos de que dispõe o aprendiz como ferramentas para dar início ao seu crescimento dentro da maçonaria. Deve o painel, portanto, ser do conhecimento do aprendiz, porquê, segundo Nicola Aslan, autor da vários livros maçônicos : “O Aprendiz Maçon deve trabalhar e estudar para adquirir o conhecimento do simbolismo de seu grau e sua aplicação e interpretação filosófica; a este trabalho dá-se o nome de Desbaste da Pedra Bruta”.