CÂMARA DE REFLEXÃO

Marcelo Fonseca Valério

      Um porão? Uma caverna? Um túmulo?

  

    A minha imaginação passou muito fértil e não atinava de forma alguma do porquê de tudo aquilo. Sobre a mesa uma caneta, uma campainha, uma estatueta representando um galo, uma ampulheta, um pequeno recipiente contendo sal. As paredes tinham inscrições.

      Naquela situação em que me encontrava em completo constrangimento, um ambiente totalmente fora dos padrões a que estava habituado, com a presença daqueles símbolos que não atinava do porquê, especialmente a estatueta representando aquele galo e o sal.

      O que representaria o galo senão o anuncio do Sol que estava para nascer? Poderia o Sol nascer dentro da escuridão daquela caverna, daquele túmulo, daquele sótão, um lugar tão fúnebre?

       A que estava associado o vasilhame contendo sal?

      É verdade que Jesus já dissera que o cristão era o sal da vida. Que reação poderia este sal provocar à minha pessoa naquela situação? As inscrições eram por demais contundentes. Realmente eu sabia, era pó e, que a ele retornaria, portanto, eu fazia parte da natureza; mas, eu não aceitava que todo o complexo que constituía a minha identidade, tanto física como espiritual, algum dia poderia ser destruído.

       O que eu desejava, não era ingressar numa instituição funerária, mas, bem ao contrário, eu queria vida, eu queria um ambiente que eu pudesse evoluir junto com pessoas mais experientes e, que pudessem me conduzir não só em um plano de harmonia perfeita com Deus, mas, a uma condição de compreender o objetivo da vida e o objetivo da morte.

      Aquele ambiente mortuário seria uma representação simbólica de que, para encontrar uma vida real, seria necessário retornar ao ventre. Portanto, eu estava novamente em uma gestação, e receberia alimento, substância vital, através de um condutor umbilical. Isto me tranqüilizou porque o retorno a uma situação primitiva, não significa, em absoluto, a morte.

      Às vezes não se consegue distinguir uma realidade de um símbolo, porque podem ser fundir. Mental e espiritualmente talvez eu já estivesse morto na concepção simbólica maçônica.

      Mas a condição de ingressar na maçonaria exigia uma morte? Exigia um nascimento? Essa morte simbólica, esse nascimento simbólico uma realidade, teria eu já morrido?

      O objetivo da minha estada naquele lugar significaria uma realidade, teria eu já morrido?

      Certamente estaria morrendo tranqüilamente e sem dor.

      Estaria eu renascendo?
       Estaria sofrendo as dores do parto? Quem? A natureza,a instituição maçônica, a minha alma?

      Eu sabia e estou plenamente convencido até hoje que o ser humano é trifásico: corpo, alma e espírito.

      O corpo vem da natureza, a alma é o nosso ego, mas, o espírito é o divino, é G.:A.:D.:U.: