A partir de minha iniciação na Arte Real, após 15 anos de formatura na Arte de Curar, vejo-me novamente de encontro com a antiguidade e seus pensadores, os filósofos. O estudo da Maçonaria, me faz rever e aprimorar os preceitos do juramento de Hipócrates.

             Em grego, filosofia quer dizer “amor à sabedoria”. Consta-se que o termo foi empregado pela primeira vez por Pitágoras que, ao ser chamado por um de seus discípulos de “sábio”, recusou o título dizendo que preferia ser chamado de “filosófico”, isto é, “amigo da sabedoria”.(1) A filosofia é a totalidade do conhecimento dizia Aristóteles. Filosofar é pensar sua vida e viver seu pensamento(2). O estudo básico da filosofia deveria fazer parte de toda educação; uma universidade sem um departamento de filosofia é como um corpo sem cabeça.(3)

             O Grau de Aprendiz da Maçonaria tem ensinamentos de alguns filósofos como Pitágoras, Zenão e Sócrates.

             Pitágoras (570-500 a.C.) como Cristo, Buda e Maomé, nunca escreveu: preferia difundir o seu ensinamento por meio de breves sentenças ou exemplos de vida. Os seus discípulos só podiam fazer perguntas após longo processo de iniciação, e os neófitos apenas podiam ouvir.(4) É claro que na coluna do sul podemos nos expressar, mas o aprendizado está sobretudo quando adverte o Aprendiz de que o silêncio é necessário para meditar, para fazer o trabalho de introspecção.(5)

             Zenão (515-450 a. C.) ensina que para vida feliz, devemos aceitar os tropeços. Até porque são inevitáveis. Ele pregou o estoicismo. Estóico é quem se porta com serenidade diante do revés ou do triunfo. Nem vibra na vitória e nem se deprime na derrota. Zenão perdeu todo o seu patrimônio num naufrágio. Seu comentário ao receber a informação: “O destino queria que eu filosofasse mais desembaraçadamente”. Como ensinamento maçônico, devemos manter serenidade, calma e equilíbrio quando estivermos em alta ou quando estivermos em baixa.

             Sócrates (470-399 a.C.) também como Jesus e muitos outros profetas religiosos da época, também decidiu nada escrever e confiar a sua mensagem aos colóquios entre indivíduos e à força concreta do exemplo. Suas idéias sobreviveram porque Platão, o melhor entre seus discípulos, fez do mestre o protagonista de todas as suas obras. Sócrates ensinou que não é possível conhecer alguma coisa sem reconhecer a própria ignorância. Parece óbvio, mas ele observa que a presunção do saber é o maior obstáculo ao descobrimento, de modo que o saber que não sabe constitui um critério eficaz para diferenciar os verdadeiros e os falsos sábios. “O ignorante supõe saber tudo. O sábio sabe que nada sabe”. Nos dizeres de Sócrates: “conhece-te a ti mesmo” aprendemos que para melhorar o próprio homem e conseqüentemente a sociedade em que vive, devemos nos conhecer e saber quem somos. Para desbastar a Pedra-Bruta é preciso, antes de tudo, de conhecimento próprio.

             O benefício da sabedoria dos séculos não depende de modo algum de um Ph.D., ou algo no gênero. A grande vantagem de ter milhares de anos de pensamento a que recorrer é que várias das mentes mais sábias da história refletiram sobre esses temas e nos legaram ensinamentos e orientações. Mas a filosofia também é pessoal. Também somos os nossos próprios filósofos.

             A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista. Esta definição somente é possível após o início da fase da “Maçonaria Especulativa”, voltada para o conhecimento filosófico e ocorrida entre os séculos 16 e 17 quando as sessões maçônicas se abriram para trabalhadores de outros ofícios. A partir de então já não se tratava de construtores de pirâmides, castelos ou catedrais, mas de homens cujos trabalhos rituais tendiam a indagar sobre o “si próprio”.(6)

             O homem é um ser ávido do saber. As reuniões em loja me estimulam pela curiosidade e pelo conhecimento. Lavrarei a Pedra-Bruta sem atropelos. Com paciência, pois isto também é uma provação. O Conhecimento como fator de crescimento pessoal é a base secular de todo processo maçônico de construção filosófica de homens que interligados afetivamente, buscam na prática das virtudes, equilíbrio, paz e harmonia social.(7)

             Na loja, escuto resposta de nosso orador: “Ter capacidade civil, moral ilibada, sentimento cívico, compreender os fins maçônicos e querer executá-los”. Vou ao dicionário e procuro ilibada: não tocada; sem mancha; pura. A propósito: O juramento de Hipócrates é considerado um patrimônio da humanidade por seu elevado sentido moral. No dicionário: que denota bons costumes, boa conduta. Quanto mais estudamos e aprendemos, mais sabemos que nada sabemos.

Bibliografia

1. LUCCA, Omar Nicolau. Aspectos Filosóficos da Maçonaria. In “A Trolha” :   Coletânea 3, p.115-124.
2. COMTE-SPONVILLE, André. Felicidade Desesperamente.
3. MARINOFF, Lou. Mais Platão, Menos Prozac – A Filosófica Aplicada ao Cotidiano. 11ª ed. Record, 2006, p 23
4. NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia – Das Origens à Idade Moderna. Ed Globo, 2002, p.21
5. RODRIGUES, Raimundo Acreano, Aprendendo a Pensar. Internet www.pedreiroslivres.com.br
6. BECK, Ralph., A Maçonaria e Outras Sociedades Secretas. Planeta do Brasil, 2005, p 57.
7. MEDEIROS, Genario Freire. Maçonaria e Conhecimento. In “ A Trolha”, 2007

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