AS FERRAMENTAS DE COMPANHEIRO E AS CINCO VIAGENS

Leonardo Baioneta

Impossível falar das ferramentas de companheiro, sem falar das viagens de elevação. O Aprendiz maçom assimilou o vício e a virtude e, para isso teve que caminhar das trevas à Luz, o Companheiro maçom terá que cumprir cinco viagens para utilizar com eficácia as ferramentas do seu grau.

 

O Companheiro maçom deve transcender do mundo concreto, (o Ocidente), ao mundo abstrato ou transcendente (o Oriente), o mundo dos Princípios e das Causas, atravessando a região obscura da dúvida e do erro (o Norte), para voltar pela região iluminada pelos conhecimentos adquiridos (o Sul), constituindo cada viagem uma nova e diferente etapa de progresso e de realização.

A PRIMEIRA VIAGEM

 Na primeira viagem, o novo companheiro leva duas ferramentas com que realizou o seu trabalho de Aprendiz, o malhete e o cinzel.

Com o malhete e a força, se produz um efeito para desbastar a matéria, que é a desagregação da parte não desejada, por consequência deste efeito de força e precisão, o malhete representa o poder destrutivo, e, se não for utilizado com extremo cuidado e muita inteligência, compromete seriamente a Obra de Construção Individual, ao mesmo tempo que se transforma num potencial perigo para a estabilidade do edifício social.

O Cinzel possui o poder de cortar, dar forma, abrir caminho através da matéria, é o veículo de aprimoramento. O Cinzel significa a capacidade de enxergar aquilo que é preciso mudar, deve ser a autocrítica do Maçom que, apoiada pela força de vontade, fará com que consiga o desbaste necessário de sua ‘pedra bruta’. Para tanto, o Aprendiz-Maçom deve possuir qualidades morais, sentimentos bons e generosos (linha da virtude), uma mente bem dotada e educada (linha da direção) e uma natureza espiritual pura e profunda (linha do discernimento), os quais serão utilizados em suas obras. Além disso, deve dirigir e concentrar a energia a um ponto definido, a obra final, para que a força não se disperse e o resultado seja alcançado, sem nunca se desviar do caminho traçado

Observações

O malhete, no meio jurídico, chamado pelos profanos de martelo do juiz, todo em madeira, é, juntamente com a deusa Thêmis e a balança da justiça comutativa, um dos mais fortes e conhecidos símbolos do direito e da justiça. Outros autores fazem referência ao antigo cajado utilizado pelos sacerdotes judeus e cristãos, que, quando presidindo os cultos ou reuniões públicas, o utilizavam para chamar a atenção da assembléia. No Direito o martelo representa o sinal de alerta, respeito, e ordem para o silêncio.

Em síntese na primeira viagem o Companheiro maçom deverá compreender, que o uso combinado das duas ferramentas, ou seja, o uso harmônico da força inteligente, aplicadas ao carácter, ou seja, a pedra bruta da personalidade profana, obterá uma pedra polida, apta a ser integrada no seu Templo Interno.

A SEGUNDA VIAGEM

 As ferramentas que o novo Companheiro maçom leva em sua segunda viagem, são de uma natureza inteiramente diferente dos com que executou o seu primeiro trabalho.

A régua e o compasso agora destinadas à segunda viagem, são ferramentas leves e de precisão, que além de se destinarem a verificar, e a dirigir o trabalho executado com as anteriores ferramentas, têm ainda o objetivo puramente intelectual.

A régua e o compasso não são simplesmente dois instrumentos de medida, são instrumentos criativos e cognitivos, e através deles podemos construir quase todas as figuras geométricas, começando pelas duas figuras geométricas elementares, que são a linha reta e o círculo.

Para o maçon estas figuras são de grande significado construtivo, a linha reta, que é traçada com o auxilio da régua, significa a direção retilínea de todos nossos atos, dado que é dever de todo maçom, nunca se desviar no seu progresso da exatidão, pela qual constantemente se orienta na procura do caminho mais justo e mais sábio.

            Lado outro, o compasso é a procura incessante pela justiça, o círculo mostra-nos o nosso campo de ação, dentro do qual devemos atuar, sempre orientados sabiamente pela linha reta, que passa constantemente pelo seu centro.

Em síntese estes dois instrumentos representa a harmonia e o equilíbrio que devemos aprender, para que alcancemos a perfeita, justa, e reta manifestação do Ideal material.

A TERCEIRA VIAGEM

 Na terceira viagem, o novo Companheiro maçom conserva a régua na sua mão esquerda e, substitui o compasso pela alavanca, a quinta ferramenta da sua caminhada de afirmação para o grau de Companheiro maçom.

A alavanca tem uma função eminentemente ativa podendo mover e levantar objetos, os mais pesados possíveis, sempre utilizando de um terceiro, o ponto de apoio. Simbolicamente a alavanca representa o desenvolvimento da nossa inteligência e da nossa compreensão, movendo os nossos instintos, para que ocupem o lugar que lhes está destinado na Construção do nosso Templo Interno.

            Podemos considerar a alavanca o símbolo da Inteligência humana, o emblema da força moral, cujo ponto de apoio deverá ser tão resistente quanto a própria alavanca, afim de não comprometer o trabalho, significa a direção, o transporte, e a colocação dos materiais usados e trabalhados, é o poder da vontade, potencia do trabalho, e o poder multiplicador.

            “Deem-me um ponto de apoio e uma alavanca que removerei a terra” Arquimedes.

            Dentre várias características da alavanca duas antagônicas me chamaram mais atenção, a sua resistência e flexibilidade, e portanto assim deve ser um maçom resistente e ao mesmo tempo flexível. Como exemplo resistente aos vícios, e flexível na prática contínua da tolerância.

            Em síntese nesta viagem o Companheiro maçom nunca deve separar-se da régua com que entrou pela primeira vez na segunda Câmara, uma vez que esta simboliza a direção reta de suas condutas, e a nova ferramenta, a alavanca, o Companheiro maçom aplica-a nos seus esforços, por meio do qual realiza o que de outra maneira lhe seria impossível realizar, dado que a alavanca multiplica as suas forças em proporção direta com as suas necessidades.

A QUARTA VIAGEM

           

Na quarta Viagem, o novo companheiro continua a segurar a régua com a sua mão esquerda, acompanhada desta vez pelo esquadro, que é a sexta e última ferramenta das suas viagens na afirmação do grau de Companheiro maçom.

            Assim, através do uso coordenado da régua e o esquadro, resulta a união da linha vertical com a linha horizontal, é o símbolo da retidão, e da ação do homem sobre si mesmo. Representa a conduta maçônica, pois todos devemos enquadrar nossos atos sob a reta da virtude, emite a idéia de imparcialidade, precisão de caráter, simboliza a moralidade, o controle das ações.

 Particularmente, o esquadro unido com a régua ensina ao maçom, que o fim nunca justifica os meios, só se pode obter um resultado satisfatório, quando os que se empenham estejam em harmonia, com a finalidade em que unidos se propõem a alcançar.

A QUINTA VIAGEM

Na quinta viagem, o novo Companheiro maçom procura o Gênio Individual, no qual se reflete a verdadeira capacidade, uma caminhada diferente das precedentes, começando por não ser necessário o auxilio de qualquer ferramenta, caminha numa direção oposta aquela que seguiu até agora, e sob a ameaça de uma espada posta sobre o seu peito.

            O sentido desta viagem está intimamente relacionada com o número cinco, o que a torna muito peculiar no grau de Companheiro. O fato desta se fazer sem nenhuma ferramenta já por si só a torna misteriosa. Nas quatro viagens precedentes, o Companheiro maçom aprendeu o uso dos seis ferramentas fundamentais da construção, o malhete, o cinzel, a régua, o compasso, a alavanca, e o esquadro, que correspondem às seis principais faculdades, a seguir o Companheiro maçom deverá procurar a sua sétima faculdade central, que corresponde à letra G (a sétima letra do alfabeto latino), cujo o perfeito conhecimento o conduzirá ao Magistério da sua arte.

CONCLUSÃO

  Cessada a quinta viagem está o novo companheiro apto a utilizar as ferramentas de construção para lavrar a pedra necessária ao seu Templo Interno, devemos desenvolver e trabalhar a pedra da nossa personalidade na forma que melhor se adapte, e segundo a sua particular natureza, para ocupar o lugar mais apropriado no edifício da humanidade.

Leonardo Corrêa Baioneta

Bibliografia:

Site “Arte Real” “Cidade Maçônica”

Oliveira Pereira

Cesar Guimarães

Alfério di Giaimo Neto

Rudimar Panzoni Marques

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