Do mesmo modo, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, aclamação seria o “ato ou efeito de aclamar”. Aclamar seria “manifestar pública e coletivamente aprovação ou contentamento, com entusiasmo e de modo ruidoso, com gritos, aplausos, etc.” A palavra exclamação pode ser definida como “ato de exclamar”. Exclamar significa “exprimir espanto, alegria, admiração, etc., por meio de exclamação; dizer com ênfase, em voz alta, em tom exclamativo”. Interjeição é uma “palavra invariável ou sintagma que, com entonação peculiar, geralmente sem combinar-se gramaticalmente com elementos da oração, formam, por si sós, frases que exprimem uma emoção, uma sensação, uma ordem, um apelo ou descrevem um ruído”.
Do exposto acima, conclui-se que a palavra huzzé deve ser considerada, segundo os rituais maçônicos, uma aclamação.
A origem dessa palavra é muito controversa, tendo múltiplas explicações, teorias e conotações, inclusive na etimologia, grafia e pronúncia. Essa palavra, dentre as inúmeras teorias, teria origem árabe, significando “viva”.
Do mesmo modo é feito no final da sessão, quando do encerramento dos trabalhos, após o fechamento do Livro da Lei, simbolizando que já é meia-noite. Quanto mais escura a noite, mais próximo se faz o nascer de um novo dia, belo, radiante e cheio de energia
Do mesmo modo é feito no final da sessão, quando do encerramento dos trabalhos, após o fechamento do Livro da Lei, simbolizando que já é meia-noite. Quanto mais escura a noite, mais próximo se faz o nascer de um novo dia, belo, radiante e cheio de energia
Na Inglaterra, a palavra aclamação é tomada do verbo to huzza, e huzzé seria uma corruptela de huzza, que significa aclamação, com sentido de “viva o rei”. Pronúncia correta de TO HUZZA: “TU RÊTZA”. Era repetida três vezes, significando Viva! Viva! Viva! Segundo Albert Lantoine (citado por Nicola Aslan), a palavra huzza (huzzé) é simplesmente sinônimo de hurrah! Pronúncia correta de HURRAH: “RRURAA”.
Para os franceses, a grafia correta seria huzzé, pronunciando-se HUZZÊ, pois em francês o “É” tem som fechado e em português tem som aberto; para os brasileiros, então, a grafia correta seria “huzzê”, o que não acontece. É formada por duas sílabas e, por constituir uma aclamação, é pronunciada com voz forte e gutural.
A pronúncia correta é huzzé, em dois sons, dando-se ênfase ao som da letra “h”`. Exige-se um sopro mais forte e “zzé” com determinação, pronunciando o som do “E” aberto, como que solfejando um dó bem longo terminado em fá, segundo os músicos. Pronúncia correta de HUZZÉ: “RUZÉ”. Não se admite pronunciar O ZÉ! O ZÉ! O ZÉ!
É similar à palavra hurrah, uma aclamação mundial, usada, principalmente, nos aniversários e esportes, como Hip! Hip! Hurra! – também significando Viva! Viva! Viva! Nas tropas de guerra, a palavra “hurra” também era usada para adquirir coragem, destemor, bem como para amedrontar o adversário, imobilizando-o temporariamente.
Tal fato nos remete, automaticamente, às artes marciais. No caratê, temos o KIAI, grito característico do esporte. A palavra vem do japonês, que significa: KI = energia, espírito e AI = união, concentração. Seria, por conclusão, “uma reunião de energia”, usada especificamente nessa atividade esportiva. Ocorre, fisiologicamente, com a contração brusca do músculo diafragma, que expele violentamente o ar dos pulmões, produzindo, nesse momento, um grito breve e profundo. Diz-se que o grito “nasce no abdômen”, aproximadamente cinco centímetros abaixo do umbigo. O som produz dois efeitos psicológicos: aumenta a coragem do praticante e desconcerta o adversário. Segundo a lenda, o KIAI pode imobilizar ou mesmo matar pequenos animais ou pássaros. Tal fato teria, também, uma explicação fisiológica: o brado aumentaria bruscamente a quantidade de adrenalina no sangue, com consequente aumento abrupto da pressão arterial, produzindo um acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto do miocárdio. Os efeitos do KIAI seriam, em resumo: a) unificar as forças da mente e do corpo; b) adquirir coragem; c) amedrontar o adversário; d) eliminar o estresse.
Evidentemente, para não produzir efeito contrário, deve-se envolver concentração física e mental, com treinamento exaustivo, como tudo no esporte.
A aclamação huzzé faz parte de vários ritos e está inclusa no Rito Escocês Antigo e Aceito, que teve sua origem na França, e, provavelmente, foi introduzida no rito nessa época. É pronunciada no início dos trabalhos, após a bateria do Grau, estando relacionada ao meio-dia, com o sol a prumo, sem quaisquer vestígios de sombra, hora de esplendor e iluminação, invocando momentos de sabedoria em busca da Verdade, mas ao mesmo tempo de humildade. Nesse momento, o Maçom sente-se ágil, liberto dos problemas do dia a dia, como desavenças familiares, problemas relacionados ao trabalho, endividamento, tormentas e ansiedades, tornando-se livre e desimpedido para exercer suas atividades maçônicas. Muitas vezes, o momento da aclamação é esperado ansiosamente pelos Irmãos, que expelem o ar com força dos pulmões, tornando salientes as veias do pescoço. É, ao mesmo tempo, um brado de fortalecimento do espírito maçônico, mas também relaxante. Do mesmo modo é feito no final da sessão, quando do encerramento dos trabalhos, após o fechamento do Livro da Lei, simbolizando que já é meia-noite. Quanto mais escura a noite, mais próximo se faz o nascer de um novo dia, belo, radiante e cheio de energia.
Deve, portanto, ser somente pronunciada duas vezes, no início e no fim da sessão, de pé, com voz forte e gutural, por três vezes. Como exceção, se a sessão se acha tumultuada e tensa, o Venerável Mestre pode suspendê-la, temporariamente, e fazer a aclamação por três vezes. Como que por encanto, os ânimos serenam e os trabalhos podem ser retomados normalmente.
Mutatis mutandis, a aclamação é uma expressão de alegria entre os maçons, mas também de invocação, no início da sessão maçônica, aos bons ventos e, quando do encerramento, a retomada serena de uma grande viagem sem tormentas por mares nunca e já dantes navegados, aclamando de modo uníssono e em uma só voz: Huzzé! Huzzé! Huzzé!
REFERÊNCIAS:
A ACLAMAÇÃO Huzzé, Huzzé, Huzzé! Revista Universo. 2011. Disponível em: .
ASLAN, Nicola. Grande dicionário enciclopédico de maçonaria e simbologia. Rio de Janeiro: Artenova 1974. v. 2.
CAMINO, Rizardo da. Simbolismo do primeiro grau: aprendiz. São Paulo: Madras, 2011.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 4. Curitiba: Positivo, 2009.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
ISMAIL, Kennyo. No esquadro: derrubando mitos da maçonaria. Disponível em: .
MAÇONARIA.NET. Disponível em: .
OKINAWA SHORIN RYU KARATÊ-DO DO BRASIL. Mestre Yoshihide Shinzato. Sede Central – Brasil. Disponível em: .
QUEIROZ, Álvaro de. A maçonaria simbólica: rito escocês, antigo e aceito. São Paulo: Madras, 2010.
REVISTA UNIVERSO MAÇÔNICO. São Paulo, n. 6, 10 jun. 2010.