Trazida para o Brasil oficialmente no primeiro ano do século XIX, a maçonaria participou ativamente do processo de independência do país. Marcado por luzes e trevas, o surgimento da maçonaria no Brasil ainda é pouco conhecido.
Superdimensionadas por escritores maçons ou banalizadas por pesquisadores que não têm acesso a documentos consistentes, as maçonarias, entretanto, estavam entre as mais importantes formas de associação do período da Independência e início da construção do Estado Nacional Brasileiro e desafiam até hoje o conhecimento histórico.
Apesar das especulações em contrário, a Loja Reunião, do Rio de Janeiro, é comprovadamente a primeira a ser criada e a reunir-se regularmente no Brasil, em 1801. Tal testemunho veio de um dos mais importantes líderes maçônicos, José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), conhecido como “Patriarca da Independência” e que atribuiu a fundação desta primeira “Loja Simbólica Regular” no país, ligada ao Grand Orient d’ile de France, à iniciativa de um misterioso “cavalheiro Laurent”, viajante no navio de guerra francês Hydre, que fazia rota para a ilha Bourbon, antes disso pode ter havido agremiações secretas não maçônicas. Ou então, as que existiram foram tão clandestinas que não deixaram maiores rastros, atiçando a chama da curiosidade de autores do século XX, que mesmo sem documentação, procuram “evidências”, com destaque para a Conjuração Mineira de 1789, muitas vezes apontada como obra de maçons, da mesma forma que a Conjuração Baiana de 1798.
Existiram raras e nebulosas agremiações maçônicas nos principais centros brasileiros no fim do período colonial, como o Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, onde a derrotada república de 1817 tornou evidente a presença desse tipo de entidade. É prudente evitar a ligação simplista entre maçonaria e revoluções, mesmo se os Grandes Orientes e suas lojas desempenharam papel importante nas desagregações de antigos regimes, como na Revolução Francesa e em outros países europeus. Os maçons nem sempre eram revolucionários.
No período da Independência brasileira as atividades maçônicas cresceram ao lado de outros tipos de associações filantrópicas, políticas, culturais e de ajuda mútua. É conhecido o exemplo do Grande Oriente Brasileiro e 1822, que se tornou importante foro de debate, mobilização e contato entre forças políticas que efetivaram a separação do Brasil e Portugal – e tal exemplo se explica também pelo caráter reservado. No quadro ainda do absolutismo, embora abalado pelo movimento constitucional português desde 1820, o espaço maçônico era adequado para realizar tal articulação que, tornada pública, seria ilegal.
As reuniões do Grande Oriente mostraram-se decisivas nesse momento. Emissários foram enviados às demais províncias para articularem a adesão à Independência. E foram durante esses encontros que surgiu a idéia de se chamar de “império” o país que seria independente e de “Imperador” seu primeiro governante. Esse primeiro Grande Oriente do Brasil se tornou referência historiográfica obrigatória e mesmo formadora de memória histórica, na medida em que outras maçonarias posteriores, se apresentavam como autênticas herdeiras dessa matriz.
A instituição, com sede na atual Rua Visconde de Rio Branco, Rio de Janeiro, foi reconhecida pelos Grandes Orientes da França, Inglaterra e Estados Unidos e era adepta do Rito Francês Moderno, um dos modelos de organização simbólicos mais difundidos na época.
Em seus primórdios, o Grande Oriente Brasileiro teve como membros mais influentes: Gonçalves Ledo, José Bonifácio (o Grão Mestre), e o próprio Dom Pedro I, cuja trajetória maçônica foi ao mesmo tempo fugas e fulminante. Em 2 de agosto de 1822, ainda como príncipe regente foi escolhido pelo Grande Oriente do Brasil como simples iniciante, no primeiro grau, por iniciativa do Grão Mestre José Bonifácio. Na reunião seguinte, três dias depois, D.Pedro foi aclamado Grão Mestre, galgando assim, em dois meses todos os degraus da Perfeição Universal, oito dias antes de sua aclamação pública como Imperador do Brasil.
A filiação do príncipe e futuro imperador D Pedro I ao Grande Oriente não foi originalidade brasileira e seguiu modelo comum na Europa. Havia uma espécie de jogo entre os maçons e o poder dos príncipes – aqueles buscando proteção e espaço e esses aproveitando para se legitimarem no campo das “novas idéias” e também controlar esse tipo de atividade. Entretanto, a aliança brasileira não durou muito, pois 17 dias após sua ascensão a grão mestre, D Pedro I proibiu por escrito as atividades maçônicas, assinando-se Pedro Guatimozim, apelido maçônico do monarca.
Mas será somente com a crise e o fim do Primeiro Reinado e no período das Regências (1831-1840) que os trabalhos maçônicos serão retomados de maneira regular, embora sem a importância de 1822. A partir de 1830 assistiu-se um crescimento considerável crescimento das maçonarias e, ao mesmo tempo, a um verdadeiro “canibalismo” maçom, co a existência de cinco Grandes Orientes somente no Rio de Janeiro, além das dissidências e intricadas brigas entre os grupos, revelando como era difícil a busca da fraternidade e perfeição.
Funcionam atualmente no Brasil duas potências reconhecidas entre si e internacionalmente: o GOB e a Grande Loja do Brasil. O primeiro reporta-se ao Grande Oriente da França e o segundo a Grande Loja e Londres. Lojas fora dessas potências, assim como maçonarias mistas ou femininas não são reconhecidas.
Cada loja segue um entre as dezenas de ritos maçônicos reconhecidos. Todos têm em comum os três graus simbólicos (aprendiz, companheiro e mestre). O mais difundido no Brasil é o Rito Escocês Antigo e Aceito, outros ritos praticados no Brasil são: o Brasileiro, o de York. O Adonhiramita e o Moderno ou Francês.
A MAÇONARIA E O IMPÉRIO
Reginaldo Leite
Publicado em
TRABS MAD I