A PRIMEIRA LIÇÃO DE UM APRENDIZ

 


     O APRENDIZ É LEVADO A CONHECER, PELAS MÃOS DOS MESTRES, OS INSTRUMENTOS BÁSICOS: A RÉGUA DE 24 CM, O MALHO E O CINZEL.
É POSSÍVEL FECHAR OS OLHOS E IMAGINAR UM PERÍODO ANTERIOR À REVOLUÇÃO INDUSTRIAL,

QUANDO PEDREIROS SE PUNHAM AO TRABALHO.
     NESSES TEMPOS LONGÍNQUOS, EM QUE A MAÇONARIA ERA OPERATIVA, A PEDRA BRUTA ERA LAPIDADA E PREPARADA EM UMA QUANTIDADE DE PEÇAS UNIFORMES, QUE IRIAM COMPOR UM EDIFICAÇÃO SEGUNDO O PROJETO DO CONSTRUTOR. CADA PEDRA, CUIDADOSAMENTE TALHADA, AOS POUCOS PERDIA SUA APARÊNCIA TOSCA, GANHANDO CONTORNOS CÚBICOS.
A RÉGUA MEDIA A EXTENSÃO DO TRABALHO; O MAÇO ERA O INSTRUMENTO ATIVO DA OBRA DE DESBASTE DA PEDRA BRUTA E, O CINZEL, O INSTRUMENTO PASSIVO.
HODIERNAMENTE, ENTENDENDO A MAÇONARIA COMO ESPECULATIVA, OS INSTRUMENTOS TÊM UM SIMBOLISMO FORTE PARA OS INICIADOS.
     A RÉGUA DE 24 CM NOS LEMBRA QUE O DIA É DIVIDIDO IGUALMENTE EM 24 HORAS E QUE TEMOS QUE NOS DEDICAR CRITERIOSAMENTE DURANTE NOSSA ROTINA DIÁRIA, RESERVANDO PARTE DO TEMPO PARA O TRABALHO, PARTE PARA O DESCANSO FÍSICO E TAMBÉM PARA O APRIMORAMENTO ESPIRITUAL.
O MAÇO É A MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DO APRENDIZ, AGINDO RACIONALMENTE NA CONDUÇÃO DE SEU DESTINO E NA FORMAÇÃO CONTÍNUA DE SEU CARÁTER.
     O CINZEL É A DEMONSTRAÇÃO DA CAPACIDADE DE DAR CONTORNOS À PEDRA BRUTA, DISCERNINDO SOBRE O QUE DEVE SER RETIRADO PARA O TRABALHO DE LAPIDAÇÃO.
     É PRECISO AFASTAR-SE DOS CONCEITOS PROFANOS, MUITAS VEZES CONTAMINADOS PELA DICOTOMIA MANIQUEÍSTA DO BEM E DO MAL, HERANÇA DE DOGMAS RELIGIOSOS E FALSAS CONSTRUÇÕES IDEOLÓGICAS, A FIM DE QUE SE POSSA ENTENDER O SIMBOLISMO DESSE "DESBASTAR A PEDRA BRUTA", COMO UMA FORMA DE AMOLDAR O ESPÍRITO, DESVENCILHANDO-SE DOS DEFEITOS E PAIXÕES.
     NESSE PRISMA, É DE SE LEMBRAR QUE A BUSCA DO JUSTO E PERFEITO É A CAMINHADA NA DIREÇÃO DA CONSTRUÇÃO    MORAL. ESSA CONSTRUÇÃO INICIA-SE PELO LAPIDAR DE UMA PEDRA.
     VOLTANDO OS OLHOS PARA O CAMPO FILOSÓFICO, NÃO SE AFIGURA TAREFA FÁCIL CONCEITUAR JUSTIÇA E MORAL.
CADA UM DE NÓS TENDE A TER UM VISÃO PECULIAR SOBRE O ALCANCE DAS PALAVRAS "MORAL" E "JUSTIÇA". LEMBRE-SE QUE OS CONCEITOS FORMULADOS A PARTIR DE UMA VIGÊNCIA LIMITADA NO TEMPO SÃO NATURALMENTE DEPENDENTES DOS VALORES SOCIAIS VIGENTES NESSA MESMA DETERMINADA ÉPOCA.
     ENTRE OS GRANDES PENSADORES QUE SE DEBRUÇARAM SOBRE O TEMA, PODEMOS CITAR ARISTÓTELES PARA QUEM, SINTETICAMENTE, A JUSTIÇA É IGUALDADE. KELSEN CONCEITUA JUSTIÇA COMO A FELICIDADE SOCIAL, ISTO É, A JUSTIÇA DEPENDE DA SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES SOCIAIS. ROUSSEAU, EM SEU "CONTRATO SOCIAL", CRITICA O DETERMINISMO DAS CONDIÇÕES SOCIAIS COMO OBSTÁCULO À CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA. KANT MOSTROU QUE A LIBERDADE COMO CONCEITO PROVENIENTE DO PRINCÍPIO QUE POSSUÍMOS DA LEI MORAL É UMA FORMA DO TEMPO EM NÓS, ASSIM COMO UMA FORMA DA CAUSA EM NÓS; É EM RELAÇÃO À LEI O QUE TEMPO É EM RELAÇÃO AOS PRINCÍPIOS "A PRIORI" DA SENSIBILIDADE.
     PARA KELSEN UM DIREITO POSITIVO (A NORMA EMANADA DO ESTADO) SEMPRE PODE CONTRARIAR ALGUM MANDAMENTO DE JUSTIÇA, E NEM POR ISSO DEIXA DE SER VÁLIDO. O DIREITO NÃO PRECISA RESPEITAR UM MÍNIMO MORAL PARA SER DEFINIDO E ACEITO COMO TAL, POIS A NATUREZA DO DIREITO, PARA SER GARANTIDA EM SUA CONSTRUÇÃO, NÃO REQUER NADA ALÉM DO VALOR JURÍDICO. É VÁLIDA A ORDEM JURÍDICA AINDA QUE CONTRARIE OS ALICERCES MORAIS.
PELA ÓPTICA LIBERAL, O ESTADO DE DIREITO INCORPORARIA A PRÓPRIA CONCEPÇÃO DO JUSTO, SEGUNDO A PERCEPÇÃO IDEOLÓGICA DE SEGURANÇA JURÍDICA.
     ENTRETANTO, NA ORDEM SÓCIO-ECONÔMICA VIGENTE, DE NATUREZA MULTIFACETADA, A FALÊNCIA DESSE ESTADO, ENQUANTO DETENTOR DO MONOPÓLIO DA PRODUÇÃO NORMATIVA, CRESCEM AS DIFICULDADES PARA A EDIÇÃO DE NORMAS VINCULANTES PARA OS DIVERSOS CAMPOS DA VIDA SÓCIO-ECONÔMICA.
     FALA-SE EM RUPTURA DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO ESTADO, COMO RISCO INERENTE À PROFUNDA CRISE DERIVADA DO MODELO DE ESTADO-NAÇÃO, ASSIM RECONHECIDO COMO UMA UNIDADE PRIVILEGIADA E EXCLUSIVA DE GESTÃO ECONÔMICA, POLÍTICA E SOCIAL, DE INICIATIVA LEGISLATIVA.
     E ALGUÉM PODERIA SE PERGUNTAR: O QUE ESSE QUADRO TEM A VER COM A MAÇONARIA ?                                                           É DA PRÓPRIA ESSÊNCIA DA MAÇONARIA O SEU PAPEL DE CONSTRUÇÃO MORAL DA HUMANIDADE.
     A QUESTÃO, QUE SE APRESENTA DESAFIADORA PARA TAL MISTER, É EXATAMENTE PELO CONTEXTO SÓCIO-ECONÔMICO ATUAL, ONDE NÃO MAIS BASTAM AS SOLUÇÕES DOGMÁTICAS - TRAZIDAS POR CONCEPÇÕES RELIGIOSAS OU PRAGMATISMOS IDEOLÓGICOS (EM SEU SENTIDO ESTRITO) - PARA FAZER FRENTE À CRESCENTE DETERIORAÇÃO DE VALORES SOCIAIS E HUMANOS.
     O COMPORTAMENTO MORAL DA SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS É TRADUZIDO NA HEGEMONIA DO PENSAMENTO HEDONISTA, BASEADO EM VALORES EMINENTEMENTE CONSUMISTAS E DESAGREGADORES. TAL CARACTERÍSTICA, A PAR DA IMPOTÊNCIA DO ESTADO SUBMERSO EM UM AMÁLGAMA DISFORME DE PRODUÇÃO NORMATIVA E INCAPAZ DE PROVER AS NECESSIDADES BÁSICAS, FAZ COM QUE SEJAM APROFUNDADAS AS DIFERENÇAS SOCIAIS E EVIDENCIADO O ESTADO DE BELIGERÂNCIA LATENTE, PRÓPRIO DAQUILO QUE EDUARDO FARIA CHAMA DE "ESGARÇAMENTO DO TECIDO SOCIAL".
DIANTE DESSA PERSPECTIVA SOCIAL, O DESAFIO DE CONSTRUÇÃO MORAL EXIGE A RACIONALIDADE DIALÉTICA PARA SE JUSTIFICAR UM PROPÓSITO MAIOR, SEM QUE ISSO SIGNIFIQUE UMA CÔMODA SUBMISSÃO A UM MODELO PRECONCEBIDO.
A PEDRA BRUTA A SER DESBASTADA NÃO É APENAS A BUSCA DE UMA IDENTIDADE PROFANA, UMA PEÇA AMOLDADA NA MERA CONVENIÊNCIA SOCIAL, SEGUNDO PADRÕES VIGENTES E VULGARMENTE ACEITOS.
     A HARMONIA COM O PLANO MAIOR DE PERFEIÇÃO DEVE SER UMA ESCOLHA LIVRE DO APRENDIZ, EM UMA TRANSFORMAÇÃO CONTÍNUA DE CONCEITOS.
     ESSA MORALIDADE TAMBÉM NÃO SE RESUME EM PRINCÍPIOS DE CARÁTER FILOSÓFICO, POIS O VERDADEIRO VALOR MORAL É EDIFICADO COMO SUSTENTÁCULO DE UMA CONSTRUÇÃO MAIOR. A BUSCA LIVRE E CONSCIENTE PELO JUSTO E PERFEITO, PASSA POR RECONHECER-SE COMO PARTE DESSA OBRA MAIOR, MAS SEM ABSTRAIR-SE DA REALIDADE.
ESSA CONSTRUÇÃO, BALIZADA NA ÉTICA, NÃO PODERIA SER MESMO FÁCIL, POSTO QUE NÃO É FUNDAMENTADA EM NORMAS EMANADAS DO ESTADO, DOGMAS RELIGIOSOS OU EM CONCEITOS MORAIS VAGOS, PRESOS A REGRAS TEMPORAIS E, PORTANTO, ETÉREOS.
DESVELANDO A SIMBOLOGIA DESSES INSTRUMENTOS BÁSICOS (A RÉGUA COMO TEMPO, O MAÇO COMO A VONTADE E O CINZEL COMO A CAPACIDADE), SOMOS LEVADOS A COMPREENDER QUE ESSA MORALIDADE, PARA SER ERIGIDA, EXIGE O EXERCÍCIO PERMANENTE DA TOLERÂNCIA, O PLURALISMO DE IDÉIAS, A BENEVOLÊNCIA E A SENSIBILIDADE AOS MALES DA INJUSTIÇA.
     EM UMA VISÃO ESCOIMADA DE FÓRMULAS PRECONCEBIDAS, ESSA MORAL NÃO É UM FIM EM SI MESMA, NEM UM PADRÃO DE CONDUTA, MAS UMA POSTURA REFLEXIVA E DIALÉTICA.
PARA ESSA OBRA, O PENSAMENTO DEVE SER LIVRE E A AÇÃO CONSCIENTE.
O VERDADEIRO OBJETIVO ESTÁ NA ESSÊNCIA DA PRÓPRIA BUSCA, EM CADA PASSO, NA FORMA COM QUE ESSE "CAMINHO" É CONCEBIDO E PERCORRIDO.


PAULO ROBERTO PARON
A.'.R.'.L.'.S.'. "FRANCISCO CARDONA" 146
OR.'. DE MOGI MIRIM (SP)

 
 
 
 
Ler 3543 vezes